sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Para Sempre...



O dia espreitou pela janela do meu quarto com um sorriso tímido, mas com aquela força e calor que já senti noutros tempos no conforto do teu abraço.
Abri os olhos lentamente, passando os dedos nos “cristais do sono” que me incomodavam e aí fiquei a observar o clarão solar que me iluminava o rosto.
Os ponteiros do relógio não cessaram as suas funções, continuaram a sua contagem dos segundos, minutos, horas e dias...
Sempre foi assim... o tempo não pára e muito menos efectua a sua viagem de retrocesso.
Desejaria muito recordar-te hoje com outros sentimentos e não a data da tua partida.
Fui caminhando de mãos dadas com o calor do brilho que me despertou até à estação de comboio, onde tu partiste.
Hoje não vim sozinha, tenho a companhia do meu Samurai "R", a quem eu vi nos teus olhos a alegria e o brilho de felicidade no vosso reencontro, e da tua netinha que muito em breve dará o seu primeiro, de muitos, choros, para anunciar a sua vinda ao mundo.
Não havia sinais de movimento, mas os rastos de memória que deixaste ao longo do caminho permanecem bem marcados em cada centímetro dos carris que se estendem a perder de vista.
Nenhum comboio espero hoje, apenas vim para te sentir e dizer-te que após um ano da tua partida, tu continuas presente nas nossas vidas com a mesma força.
O tempo pode passar e continuar a sua tarefa, mas a tua memória permanecerá para sempre entre nós.
A tua coragem e força de viver é para nós o maior orgulho, como eu quero ser para ti.
Margarida Lopes das Neves Marques é uma parte de ti e vai um dia conhecer o Vovô Billy. Ela vai poder olhar para o céu e distinguir no meio do universo a estrelinha que brilha com a mesma intensidade singular que foi a tua vida...



AMO-TE PAI!

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

O Artista...


Foto por: Renato Marques - Renato Marques e Grace Snows


Viajava de comboio... como sempre, sentado no seu lugar, alegremente, e pensava na sua vida... havia descoberto há pouco tempo uma daquelas coisas que todos supostamente devemos ter ... só não sabemos bem onde... a sua “veia artística”...

Satisfeito da vida tinha corrido a contar a toda a gente da sua descoberta... mas logo o seu médico o avisou: “amigo, isso é mas é uma variz e o melhor é secar”...

Secar?! Não ficara nada satisfeito com a resposta... e agora?! A sua “veia artística”?! Não podia acabar assim... assim... seca, abandonada... sozinha... e triste...Nem pensar! - disse logo para si próprio colocando um ar autoritário - mas o médico repercutiu... “Oh homem dedique-se mas é à pintura... ou coisa assim”...

Este seu médico era um verdadeiro génio, um iluminado... e não é que foi mesmo isso que ele fez...

Aquilo lá no prédio onde morava ficou a parecer uma residência de artistas... ah pois!! Que ele não é o único, nem pensar!... o Armando, o seu vizinho de baixo, esse também está no ramo... aliás, acho que, na verdade, esse foi o seu grande impulsionador... não por invejas que ele não sofre disso... mas é verdade que adorava ficar a ouvi-lo na porta do prédio aos domingos à tarde a contar as suas histórias de artista... claro está... enquanto lavava o carro...


Mas, a verdade verdadinha é que o Armando era um pouco mais artista do que ele... admitia para si mesmo – “...mas eu ainda estou a começar, ele não... já anda nisto aos anos...”... para terem uma ideia, vejam lá que ele até esteve envolvido na fundação da casa do artista... aliás, segundo ele conta (não sei se é verdade ou não...) a fachada do 1º andar foi toda dele... assentou o tijolinho todo... e ainda fez o reboco... é um verdadeiro Mestre... mas não desses Mestres da têvê... nada disso... um Mestre a sério... tipo aqueles do Karaté... só que o fato de macaco dele não tem é cinto... mas também não precisa... que com a barriga que ele tem não lhe cai de certeza... mas se tivesse cinto... era preto... ah pois era... que ele não é homem de se ficar por menos... ah pois não... ainda no outro dia por causa da lavagem do carro no passeio em frente do prédio abriu a cabeça ao otário do Fonseca do 3º andar com um paralelo da calçada... bem feito... quem o manda armar-se aos cucos?!


Mas pronto... lá ia ele... pensando, falando sozinho, imaginando que um qualquer dia destes faria uma exposição “a dois”... ele e o Armando... um reboca e outro pinta... e para si pensou mais uma vez – “...vai ficar cá uma Obra...Prima... de artistas...”

sábado, 25 de agosto de 2007

"Apanhar o Comboio": o plano




Estava cansada. Farta de comboios, de viagens, de partidas e chegadas, sem conseguir chegar a lado nenhum. Sem ninguém de quem se despedir nem nenhuns braços onde regressar. Cansada daquela rotina, cansada da sua vida, cansada... Seus olhos fecharam-se enquanto, perdida nestes seus pensamentos, olhava para a paisagem lá fora que ia ficando para trás. Pensou em como seria bom se, tal como na paisagem que via momentos antes, também os seus problemas, ilusões e desilusões pudessem ficar para trás...

Ana havia adormecido. Sentia-se aliviada pois não aguentava mais aquele interrogatório. Não aguentava pois ela não conseguia mentir à sua melhor amiga, mas também não lhe podia contar a verdade, não lhe podia dizer tudo o que tinha feito nos últimos meses e não lhe podia dizer o que estava prestes a passar. Saiu do compartimento tentando não acordar a amiga. Todos dormiam, menos ela e mais seis pessoas. Seis homens. Talvez ainda um outro estivesse também acordado. Mas duvidava. Ele nunca fora de noitadas e quando adormecia nem o barulho do comboio o acordava. Irónico...


Percorreu o estreito corredor da carruagem até ao bar e a cada passo que dava lembrava-se de como tudo aconteceu até ao momento em que se encontrava, todos os comboios que tinha apanhado, toda a preparação. O seu plano de vingança havia começado no manhã em que abriu o jornal e viu a fotografia de C. e a manchete que o anunciava assassinado em sua casa com brutalidade. Percebeu tudo quando viu Manuel na recepção do hotel... Nesse mesmo dia apanhou um avião para Roma, onde ficou em casa de um amigo durante um mês, planeando a melhor forma de se vingar... e hoje, após seis meses de preparação, tudo iria terminar.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Pequenas... GRANDES coisas


Foto por: Autor Desconhecido


Naquele dia estava ele a pensar em fazer grandes viagens... planeando e ponderando tudo ao ínfimo pormenor como era seu habito, apesar de que, no final de contas, as coisas nem sempre saírem como planeadas... mas mesmo assim ele gostava daquilo... daquele trabalho de cálculo mental, julgando e ponderando as hipóteses... vendo e revendo... possíveis ou prováveis soluções... fazia parte da sua personalidade “arrumadinha” e “desarrumadinha” ao mesmo tempo... ele era assim mesmo... um falso desorganizado ou um organizado pontualmente desarrumado... não sei bem como o classificar... ninguém sabia... nem ele próprio...

Sem saber muito bem porquê tinha comprado um bilhete... uma viagem pequenina... de 1 ou 2 paragens apenas... nem sabia muito bem porquê... era um gesto assim como quem compra uma viagem individual de Metro mas tendo passe para o mês inteiro... só para o caso de um dia vir a ser necessária... de estar precavido... era assim que ele era...

Na estação estava uma mulher, não era muito velha, mas tinha um ar pesado e cansado de quem carrega com o peso de poucos anos de idade mas de muitos de trabalho... já se tinham cruzado outras vezes, eram “conhecidos”, mas pouco... era estrangeira... ou pelo menos tinha “ares” disso... tinha uma pele morena que não era comum por aquelas paragens e já a tinha ouvido falar um dialecto pouco familiar... o seu semblante era quase sempre o mesmo... um meio-sorriso...

E ele lá continuava a contar as suas histórias e a conversar animadamente e “pelos cotovelos” como era seu timbre com a sua esposa... era essa outra característica dele... falava, falava sem parar... apesar dos amigos lhe reconhecerem qualidades como bom “ouvinte”... havia alturas que a sua vontade de falar, principalmente com a sua esposa, era tanta que parecia que não a via há séculos... e, no entanto, tinham estado apenas afastados por apenas algumas horas ou minutos...
Conversavam sobre a tal mulher... a que estava na estação juntamente com eles... comentavam qualquer coisa acerca dela...

Levantaram-se os dois e caminharam para junto dela... abordaram-na de forma simpática, tentando comunicar com ela... tiraram do bolso o bilhete que tinham comprado... o tal... e perguntaram-lhe se ela estaria interessada em ficar com ele... sucedeu o inesperado... os olhos dela brilharam... brilharam como brilham os olhos de uma criança na noite de Natal... o seu sorriso abriu-se iluminando-lhe o rosto cansado como se lhe tivessem aberto uma janela para entrar o sol da manhã... e foi com esse sorriso e brilho nos olhos que ele jamais esquecerá que ela agradeceu... agradeceu a ambos por aquele bilhete como se fosse o maior prémio que recebera na vida... e seguiu o seu caminho...

Visivelmente emocionado com aquela demonstração de gratidão por algo que para ele parecia tão pouco... tão “insignificante”... nada disse, seguiu também o seu caminho pensando... pensando... no valor... das pequenas coisas...

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

"Apanhar o Comboio": o Louco


*Foto por Ricardo Costa



O Ibiza levara-o até Coimbra. Rafaela ficara sozinha num hotel, Hotel D. Inês. Ela iria pelo menos passar lá a noite seguinte, por isso decidiu seguir o homem do Ibiza. Passou o dia a segui-lo, esperando a melhor oportunidade para o abordar e imaginando o que fazer com ele. Seguiu-o até casa. Percebendo que não havia ninguém na rua, atacou-o, encostando-lhe um canivete ao pescoço e tapando-lhe a boca com um pano.
- Ouça com atenção, se não quer que aconteça nada a si nem à Rafaela.
C. tentou protestar algo mas o pano na boca não o deixava expressar-se. Manuel continuou.
- Eu vou dizer números de andares e quando acertar no seu vai fazer-me sinal. Está bem?
C. fez sinal que sim com a cabeça, enquanto Manuel lhe tirava a chave da mão e empurrava C. para dentro.
- Primeiro. Segundo. Terceiro. Quarto.
C. murmurou qualquer coisa e Manuel empurrou-o para o elevador, tirando-lhe o pano da boca e carregando no botão do 4.º andar.
- Oiça bem. Se aparecer alguém e você fizer alguma coisa, eu não hesito em manter ninguém. Percebeu? Agora diga-me qual é o apartamento..
- 4.º dto - disse C., em voz trémula, francamente assustado com o olhar daquele homem.
O elevador parou. Manuel empurrou C., espreitando se havia alguém. Abriu a porta do apartamento e os dois entraram.
- Ah! Enfim sós. Agora, sim, podemos conversar calmamente sobre algo que temos em comum e que eu não gosto de partilhar. De onde conhece a Rafaela?
- Mas qual Rafaela? Eu não conheço nenhuma Rafaela! - disse C. sem perceber o que se estava a passar.
- Não brinque comigo!
- Já lhe disse que não conheço nenhuma Rafaela!
- Até quando é que ela vai ficar em Coimbra?
- Mas ela quem? Oiça, eu não sei de quem é que está a falar!
Manuel sentiu um acesso de raiva. Aquele cretino precisava de pagar por se ter metido com a mulher dele.
- Onde é que você a conheceu? Já se conheciam? Já tinham isto tudo planeado, era? Há quanto tempo é que tinham isto planeado?
- Mas isto o quê?? Eu não percebo nada do que está a dizer!
Enfurecido com a ideia de que Rafaela o tinha deixado por aquele homem e encolerizado pelo facto de ele não responder às suas perguntas, Manuel agarrou no primeiro objecto que lhe veio à mão e desferiu um golpe certeiro sobre o crâneo de C. Depois, cego pelo ódio, agarrou no canivete e começou a desferir golpes sobre o rosto de C., desfigurando-o.
Quando terminou sentiu-se aliviado e em paz. Procurou a cozinha. Preparou uma refeição e sentou-se à mesa a jantar. Estava faminto. epois agarrou no telemóvel e ligou para o Hotel D. Inês.
- Boa noite. Gostaria de falar com a Doutora Rafaela Santos Silva, por favor.
- Só um momento, deixe-me verificar o número do quarto. Vou passar a chamada.
Depois de dois toques de chamada, ouviu-se uma voz feminina do outro lado da linha. Manuel desligou. Rafaela permanecia no hotel.
Saiu do apartamento tranquilamente e conduziu de volta a Coimbra. Pensou em confrontar Rafaela mas já era demasiado tarde. Fá-lo-ia de manhã.

Esperança...

Foto por: F.Luis

Sentado naquele banco da Gare do Oriente pensava... quando será que chega o meu comboio?! Será que ainda tenho que esperar muito?!... Não posso!... Não consigo!... Preciso de apanhar o comboio... mas a verdade é que o receio de não apanhar o comboio certo era mais que muito...
Então, e atento a todas as informações... esperava... esperava... por vezes quase desesperava, mas logo recuperava a lucidez e acreditava que a hora do seu comboio iria por fim chegar.
A espaços metia conversa com este ou aquele passageiro que saíam e entravam de outros comboios que circulavam em outras linhas... também ele já pensara em diversos momentos mudar de linha... procurar um outro comboio que o levasse a outro destino, mas infelizmente o bilhete era, por ora, demasiado dispendioso e a verdade é que também lhe custava a largar definitivamente os comboios a que estava habituado e que eram a sua paixão... mas neste momento da sua vida... ele estava de peito aberto ao mundo... todas as opções pareciam fazer sentido desde que o fizessem feliz... era mesmo isso... a verdade era apenas essa... ele procurava a FELICIDADE... difícil poderão pensar... mas nem tanto... é difícil ser feliz quando se acha que para ser FELIZ é preciso ter o mundo no bolso... mas para ele a felicidade constrói-se em pequenos gestos... em movimentos inesperados... coisas que se sentem... algumas para as quais nem sequer existem palavras que as definam...Outras vezes eram os passageiros e outros transeuntes que, ao olharem para ele, ali, sentado, à espera... metiam conversa com ele... tentavam saber qual o comboio que estava à espera... alguns deles iam-lhe dando informações adicionais... as quais agradecia mas que, na verdade, não serviam de muito mais do que consolo e alimento de uma esperança que por sua vontade não vai morrer nunca... porque quando a esperança é Amor... e Amor é felicidade... e a felicidade não é algo que se possa deixar simplesmente escoar, escorrendo por entre os dedos como um punhado de areia fina... por isso ali estava... e continuava... aos olhos de alguns, possivelmente a PERDER tempo... aos seus, a absorver cada segundo que a vida tinha para lhe oferecer como um sedento por água sorve as gotas de orvalho de uma folha... e lhe sabem a mel...

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Olá

A propósito de um grande concerto ontem no Casino Estoril, de um encontro imediato na hora do regresso a casa... e claro, comboios

Nunca É Tarde Para Se Ter Uma Infância Feliz

A gente já não sabe o que há-de fazer com a lua

Gerou-se um curto-circuito no canal telepático

E a caverna clandestina por detrás da cascata

Onde os amantes se entregavam à eternidade

Hoje não passa dum moderno armazém de sucata
Existem mil produtos para encher o vazio

Criámos computadores para ampliar a memória

E todos nós temos disfarces para aumentar a confusão

Só não sabemos como fazer o amor durar

O grande enigma continua a dar-nos cabo do coração

"Olá, a que horas parte o teu comboio?

O meu é às cinco e trinta e três

Ainda falta um bom bocado,

Queres contar-me a tua história?

Espera, deixa-me adivinhar,

Vais recomeçar noutro lado...

Trazes escrito na bagagem

Que a coisa aqui não deu...

Quanto a mim, também me sinto um pouco desenraízado... "

Também o amor se adapta às leis da economia

Investe-se a curto prazo e reduz-se a energia

E quando o barco vai ao fundo ninguém quer ser culpado

Mas nunca é tarde para se ter uma infância feliz

O cavaleiro solitário ainda sonha acordado

AIÔ - AIÔ - AIÔ - AAAAAHHH!

AIÔ - AIÔ - AIÔ - AAAAAHHH!

AIÔ - AIÔ - AIÔ - AAAAAHHH!

AIÔ - AIÔ - AIÔ - AAAAAHHH!

terça-feira, 7 de agosto de 2007

O Embuste?!?




Cada um no seu lugar... frente-a-frente... lá circulavam à velocidade da carruagem os transportava. Eram apenas dois amigos... antigos colegas de trabalho e companheiros de outras desventuras e de outras vidas, que haviam descoberto tardiamente a sua amizade, como quase sempre se descobrem estas coisas, numa altura difícil para ambos.

Mas quem é que tem vida fácil nos tempos que correm... Porém, estavam bem melhores naquele momento, e nesse preciso dia em que após mais um dia de trabalho árduo, punham, como habitualmente, a conversa em dia... à mistura com a arrumação do trabalho do dia e a preparação da agenda para o dia seguinte.

O tema de conversa era o que circulava na boca do mundo por esses dias... uma menina desaparecera... teria sido levada por alguém da casa onde os seus pais passavam umas relaxantes férias. Os seus pais tinham acabado de dar uma entrevista na qual mostravam toda a sua mágoa com a situação... Será?! – disse ele para ela... Não sejas parvo! – respondeu ela de pronto... afirmação à qual ele apenas respondeu mostrando a sua duvida e suspeição, dizendo - Não sei não! A mim essa história parece-me muitíssimo mal contada e os pais parecem muito suspeitos em tudo isso...

Retorquindo mais uma vez, e continuando com um ar de choque, ela quase lhe bateu afirmando - coitados destes pais, já viste?!? Numa situação destas, lavados em lágrimas, fartos de procurar pela filha e tu ainda achas que eles são culpados! – Ele calou-se... mas apenas por alguns momentos... e disse – Ok... está bem... não nos vamos chatear com esta conversa... mas “escreve ai” na tua agenda que hoje... eu te disse isto... a ver vamos...

Visivelmente perturbada pela persistência do amigo em abordar aquele assunto tão melindroso e que tanto estava a chocar e a apaixonar a opinião publica pelo mundo fora daquela forma aparentemente tão fria e até cruel... ela mudou de assunto... e ficou a pensar consigo própria como é que ele poderia pensar daquela forma...

Alguns dias se passaram... algumas conversas também foram e voltaram... e o assunto sempre andou meio pendente mas sempre de certa forma presente... a espaços e à medida que os acontecimentos se iam precipitando o amigo lá lhe lembrava com alguma ironia à mistura, o que a deixava fora de sí... “olha... lá foram os gajos (referindo-se aos pais da menina desaparecida) passear para Espanha e Marrocos... devem andar atrás dela montados num camelo que é para ser mais fácil de achar... um dia destes vão à procura dela também para o Brasil e para a Tailândia ou Republica Dominicana, podem tê-la levado para lá... ainda bem que têm o dinheirito da Fundação que criaram para “gerir” os donativos que os otários vão largando... se em vez de darem donativos e espalharem cartazes e mails pela net essa gente pegasse mas era numa pá... vai-se a ver ainda está debaixo dalguma palmeira no jardim...” e a cada citação do tipo ela ficava cada vez mais enervada com o assunto e seguia-se um período em que fazia uma espécie de abstemia de conversas sobre o assunto...

Entretanto as suas vidas tomaram rumos diferentes... e como deixaram de apanhar o comboio nos mesmos horários as conversas foram-se tornando cada vez menos frequentes... mas ele lá continua, secretamente, à espera do dia em que a historia terá uma resolução... ansioso para saber qual dos dois engole o sapo... ou será o elefante...



P.S.: Advertem-se os leitores para o facto de qualquer semelhança deste texto com a realidade ser pura coincidência... ou não...

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Pensamento: Linhas (des)cruzadas

Um dia ela ganhou coragem, depois de viajar sozinha sempre o mesmo trajecto, e saiu do comboio. Dirigiu-se à bilheteira e pediu: "1 bilhete tipo lotaria, se faz favor. Não importa para onde. Dê-me apenas um bilhete. Só ida."
Ele, finalmente pensou em entrar no comboio dela. Entrou no comboio que ela apanhava todas as noites, na carruagem que ela escolhia fixa... mas não a encontrou.
Ela partia de sorriso nos lábios, recordando com ternura o passado e esperançosa quanto a um futuro que, no matter what, lhe parecia sorrir, se ela sorrisse também...