*Foto por David Gaspar
A foto que ilustra o cabeçalho deste blogue e que vos dá as boas-vindas foi tirada numa das minhas últimas viagens e já lá vai algum tempo. Aquela figura pequenina, de branco, ao fundo, sou eu. Nevava, o dia estava escuro e cinzento, fazia frio, muito frio e, ao sair da estação, afastei-me dele, momentaneamente, para ver a neve cair e observar os comboios que passavam na estação, algures em Berlim. Recordo-me que os nossos fins de tarde começavam cedo, na banheira do hotel, contigo a massajar-me os pés gelados. Recordo-me que o último jantar se passou a planear o próximo comboio a apanhar e que o destino traçado era Florença. Recordo-me de um homem-menino que repetia o nome das paragens de comboio (Hallesches Tor) e de quem me perdia constantemente enquanto analisava os quadros de Rafael ou de Vermeer. Recordo-me do restaurante grego que frequentávamos e dos brindes com uzo. Durante quatro noites e cinco dias fingi(mos) ser feliz(es). Durante quatro noites e cinco dias fingi(mos) que não havia mais ninguém. Durante quatro noites e cinco dias fingi ignorar os momentos em que fugiste do quarto para lhe deixar mensagens de saudade. Depois, quando acabaram as quatro noites e os cinco dias, partimos em comboios diferentes, eu com um vazio no olhar, tu com o olhar cheio. Faz de conta que estes cinco anos de viagem foram só um sonho e eu não cheguei a sair destas quatro paredes onde hoje me encontro.