terça-feira, 27 de novembro de 2007

Viagens (Pensamento)






A vida de cada um de nós é feita de viagens. Algumas planeadas; outras sonhadas; ouras inesperadas ou imprevistas; viagens ao acaso, sem destino; outras de trajecto definido; e, no meio destas, outras tantas que nós perdemos. Assim é a vida de cada um. Viagens solitárias, a dois ou em grupo. Viagens sós que gostaríamos de ter partilhado com outro alguém e outras em que acompanhados gostaríamos de ter estado sozinhos. E, no meio deste turbilhão de pensamentos, por vezes, olhamos e o comboio que queríamos ou deveríamos ter apanhado já partiu e já é tarde de mais para voltar. Aguarda-nos a incerteza do futuro com a aprendizagem permitida pelas recordações do passado.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Em Busca da Felicidade (Parte II)


Foto por: Filipe Monteiro


Olhou para ela de uma forma diferente, profunda… como se quisesse entrar dentro da sua mente… penetrar nos seus pensamentos... e assim ficaram por momentos que pareceram horas... olhando um para o outro... olhos nos olhos... espelhando e reflectindo as suas almas...

Acordando deste estado de hipnose ele disse - Peço desculpa menina, não me fiz entender e acabei por estar a fazê-la perder o seu tempo... a verdade é que não conheço nem pretendo ir para nenhuma localidade com esse nome... mas é verdade que o que pretendo de si é um “bilhete virtual” para a felicidade... há meses que por aqui passo e compro bilhetes para locais onde nunca fui, reservo lugares em comboios onde nunca entrei, ocupo cadeiras onde nunca sequer fiz tensão de me sentar... por um motivo apenas... para a ver... para falar consigo... para a poder olhar de mais perto... essa é a verdade... estou apaixonado por si... penso em si mais vezes por dia do que o numero de bilhetes que vende... é isso que quero de si hoje... o único bilhete verdadeiro... aquele que quero na realidade usar e guardar comigo... pois não passa de validade...

Um silêncio ainda maior tomou conta da estação... as pessoas calaram... gelaram... parecia que o tempo havia parado e até os comboios tinham deixado de passar... um raio de sol entrou pela janela e iluminou o rosto da menina da bilheteira reflectindo-se com maior intensidade numa gotinha... numa pequenina lágrima de emoção que lhe escorria pela face... os seus olhos brilhavam como nunca antes haviam brilhado parecendo duas estrelas...

O silêncio quebrou-se por um aplauso tímido ao fundo da fila que, qual onda que se forma no mar e se estende e ganha força até rebentar na praia, se propagou e contagiou todos os presentes tornando-se num aplauso sonoro e ruidoso que agora se fazia ouvir. Á medida que o aplauso aumentava de volume também as lágrimas de emoção aumentavam o seu ritmo de formação e queda no rosto da menina da bilheteira que chorava agora copiosamente...

(To be continued)

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Em Busca da Felicidade (Parte I)


Foto por: Alfredo Abano


Na fila da bilheteira um homem bem vestido e com aspecto de executivo de sucesso, daqueles que nem sequer andam de comboio, aguardava pacientemente a sua vez para comprar bilhete.
A fila avançava lentamente e após alguns minutos o mesmo homem ficou cara-a-cara com a menina da bilheteira.


Olá Bom dia! Queria um bilhete para a felicidade! – Disse num tom perfeitamente consentâneo com o seu aspecto. Desculpe! – Respondeu a menina do outro lado – disse que queria um bilhete para onde? Para a felicidade – respondeu de pronto o homem.

Fez-se um silêncio sepulcral na bilheteira, nem as crianças que até segundos antes brincavam ruidosamente ao fundo da estação pareciam conseguir soltar um som que fosse...
A menina após alguns segundos de inércia debruçou-se sobre o ecrã do computador que tinha a frente e começou a percorre-lo de ponta a ponta numa busca quase frenética... as pessoas que aguardavam na fila começavam a mostrar alguma impaciência e espreitavam por cima dos ombros uns dos outros tentando perceber o que se passava e o porquê da fila não avançar...

Mais uma tentativa... de busca... mas em vão... levantou-se a abandonou por momentos o seu lugar perante o quase desespero dos muitos que aguardavam na fila de espera... dirigiu-se ao gabinete do chefe da estação... após alguns segundos voltou com o mesmo olhar triste com que tinha entrado... dirigiu-se ao cliente e disse: Olhe, o senhor desculpe... mas é que eu não consigo encontrar nenhuma localidade com o nome que me indicou...

Ele... apenas sorriu...




(To be continued)

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Pensamentos em Surdina (ou um post do meu tamanho: pequenino)

*Foto por Cláudio Márcio Lopes



Novamente a vida os juntou, num outro comboio, a uma hora diferente do habitual.
A cidade acordava lentamente para a agitação e o corropio natural de uma semana que ainda vai a meio. O sol espreitava pela manhã mas, ainda ensonado, não abraçava os corpos de quem na rua passava.
Numa ponta da carruagem ela tremia e perguntava-se por que raio achava que ia ter calor e não houvera vestido um casaco, enquanto o seu olhar ia perscrutando os lugares ao seu redor e olhava com ansiedade para o relógio e para o telemóvel. Estava atrasado... porque não chegava nem dizia nada? Finalmente, viu-o ao fundo da carruagem. Expectante. Ansioso também. “Tonto. Enganaste-te. Era no 7 e não no 17.”
- Já ali estava há 5 minutos à tua espera...
- Ali? Não te vi...
- Pois eu reparei... tentei fazer-te sinal mas tu nada.
Olharam-se. Sorriram-se e repente ela sentiu-se quente e aconchegada. “Como a vida brinca connosco... Como a vida brinca...”