quinta-feira, 16 de agosto de 2007

"Apanhar o Comboio": o Louco


*Foto por Ricardo Costa



O Ibiza levara-o até Coimbra. Rafaela ficara sozinha num hotel, Hotel D. Inês. Ela iria pelo menos passar lá a noite seguinte, por isso decidiu seguir o homem do Ibiza. Passou o dia a segui-lo, esperando a melhor oportunidade para o abordar e imaginando o que fazer com ele. Seguiu-o até casa. Percebendo que não havia ninguém na rua, atacou-o, encostando-lhe um canivete ao pescoço e tapando-lhe a boca com um pano.
- Ouça com atenção, se não quer que aconteça nada a si nem à Rafaela.
C. tentou protestar algo mas o pano na boca não o deixava expressar-se. Manuel continuou.
- Eu vou dizer números de andares e quando acertar no seu vai fazer-me sinal. Está bem?
C. fez sinal que sim com a cabeça, enquanto Manuel lhe tirava a chave da mão e empurrava C. para dentro.
- Primeiro. Segundo. Terceiro. Quarto.
C. murmurou qualquer coisa e Manuel empurrou-o para o elevador, tirando-lhe o pano da boca e carregando no botão do 4.º andar.
- Oiça bem. Se aparecer alguém e você fizer alguma coisa, eu não hesito em manter ninguém. Percebeu? Agora diga-me qual é o apartamento..
- 4.º dto - disse C., em voz trémula, francamente assustado com o olhar daquele homem.
O elevador parou. Manuel empurrou C., espreitando se havia alguém. Abriu a porta do apartamento e os dois entraram.
- Ah! Enfim sós. Agora, sim, podemos conversar calmamente sobre algo que temos em comum e que eu não gosto de partilhar. De onde conhece a Rafaela?
- Mas qual Rafaela? Eu não conheço nenhuma Rafaela! - disse C. sem perceber o que se estava a passar.
- Não brinque comigo!
- Já lhe disse que não conheço nenhuma Rafaela!
- Até quando é que ela vai ficar em Coimbra?
- Mas ela quem? Oiça, eu não sei de quem é que está a falar!
Manuel sentiu um acesso de raiva. Aquele cretino precisava de pagar por se ter metido com a mulher dele.
- Onde é que você a conheceu? Já se conheciam? Já tinham isto tudo planeado, era? Há quanto tempo é que tinham isto planeado?
- Mas isto o quê?? Eu não percebo nada do que está a dizer!
Enfurecido com a ideia de que Rafaela o tinha deixado por aquele homem e encolerizado pelo facto de ele não responder às suas perguntas, Manuel agarrou no primeiro objecto que lhe veio à mão e desferiu um golpe certeiro sobre o crâneo de C. Depois, cego pelo ódio, agarrou no canivete e começou a desferir golpes sobre o rosto de C., desfigurando-o.
Quando terminou sentiu-se aliviado e em paz. Procurou a cozinha. Preparou uma refeição e sentou-se à mesa a jantar. Estava faminto. epois agarrou no telemóvel e ligou para o Hotel D. Inês.
- Boa noite. Gostaria de falar com a Doutora Rafaela Santos Silva, por favor.
- Só um momento, deixe-me verificar o número do quarto. Vou passar a chamada.
Depois de dois toques de chamada, ouviu-se uma voz feminina do outro lado da linha. Manuel desligou. Rafaela permanecia no hotel.
Saiu do apartamento tranquilamente e conduziu de volta a Coimbra. Pensou em confrontar Rafaela mas já era demasiado tarde. Fá-lo-ia de manhã.

9 comentários:

Leonor disse...

Voltaste e em grande! Deixando a minha opinião acho que devias ter alongado mais a tua prosa dado a importância (e violêcia) do acontecimento. Apesar de cativante foi tudo muito rápido (se calhar era o teu objectivo) mas, ainda assim, gostei muito. Já tinha saudades da Rafaela e afins.

Soul, Heart, Mind disse...

Obrigada, Leonor pelo teu comentário. Concordo em absoluto contigo. É um dos meus handicaps literários. Na verdade, não era pretensão minha que acontece tudo muito rápido. Deve-se, sim, à minha total inépcia para descrever actos violentos (o mesmo acontece para descrever momentos intimistas, sexuaism, sensuais e afins...).

E.O.

Soul, Heart, Mind disse...

*acontecesse

Anónimo disse...

Pois... eu já tentei deixar um comentário ontém mas parece que o blog não me aceita...

Deixa-me que te diga que não considero nada HANDICAP o facto da acção se desenvolver rapidamente... as coisas são como são... e é assim que acontecem na vida real... isto não é cá uma novela VENEZUELANA ou da TVI ;)

O comentário de ontém seria algo do estilo... ESTÁS AGRESSIVA!!... ;)

IRR

Expresso Oriente disse...

ehehehe. Obrigada IRR :)
E deixa-me que te diga q isto n é nenhuma novela. Estão delineados apenas mais 4 capítulos para o final.
Kiss

Leonor disse...

eu não considero as histórias da E.O. novelas, porque na realidade detesto novelas. Concordo com o IRR dizendo que não é uma forma de handicap. Considero mais a excitação de querer escrever tudo e despejar as palavras cá pra fora, um turbilhão de desabafos mentais. Tal como uma criança e brinquedos novos, estão desanparados na euforia.

Leonor disse...

Ps: O que acontece na vida real e a forma como o descrevemos e muito diferente. Utilizamos uma variada de nomes, adjectivos, verbos e por ai fora para descrever uma simples situação e, em especial, situações carregadas de emoção e sentimentos de todo o tipo (positivas, negativas, agradáveis ou ferozes). Ao tentar-mos, ao máximo, corresponder uma situação real a um próximo, daí adviram as longas descrições. E, no caso da literatura as longas prosas. No caso de pequenos livros ou pequenas histórias, o importante é restringido ao essencial sem que, no entanto, as partes de maior relevância percam a sua completa descrição nos mais variados pormenores. (Perdoem-me o longo sermão, foi mais forte que eu)

Expresso Oriente disse...

Perdoar? Agradeço-to. Mas reitero que é um handicap na medida em que é uma incapacidade minha. Mesmo que o quisesse fazer não o conseguia, algo que fiz eu própria notar logo quando descrevi a cena "intimista" entre a "Beatriz" e o C.

Leonor disse...

Mas olha que essa cena foi mais detalhada e interessante. Porque tal como a relação dos dois, era um pouco ausente de várias emoções típicas de uma casal mais intímo. A cena foi ao mesmo tempo intensa e e leve, tal como a relação deles, demasiado recente para algo mais. Nesta última cena de violência não se coaguna porque há demasiada emoção transmitida por Manuel e consequentemente por C quando não percebe nada. Mas contínuo a dizer que está muito bom