quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

A BUSCA... Parte I


Foto por : vaZectomia


Entrou notoriamente enraivecido no comboio... olhou em volta como quem faz um SCAN ao mais ínfimo detalhe a tudo e a todos... gritou algo que ninguém pareceu entender... e continuou a sua busca... passou a pente fino toda a carruagem olhando para todos os passageiros com um ar aterrador. Os passageiros esses, agarrados aos seus lugares... apenas olhavam por cima dos encostos à sua frente... num misto entre o esconder-se e o de tentar perceber o que se estava a passar... quem era aquele homem?! O que procurava?! E porque olhava para todos como se fossem os maiores suspeitos de algo que ninguém sabia o quê?!

Voltou a gritar!! – ONDE ESTÁS??? – desta vez perfeitamente audível por todos... e assim continuou... gritando, murmurando e explorando cada centímetro das carruagens daquele comboio... – Pensas que me escapas, é?! Não... Não escapas!! Vou encontrar-te!! E vais ver o que te vai acontecer!! – continuava a gritar à medida que continuava a sua busca sôfrega e agitadora...

Deve ser maluquinho... – sussurravam duas velhotas ao fundo da carruagem...

De repente... fez-se um silencio sepulcral... uma acalmia repentina tomou conta do comboio... como se aquele homem se tivesse evaporado... os passageiros continuavam a olhar uns para os outros e pelas janelas na tentativa de saber o que se passava... alguns, mais curiosos, levantavam-se e caminhavam até à porta, espreitando lá para fora... mas NADA... voltavam aos seus lugares de caras interrogativas e sem nada para contar...

Quem seria aquele homem e quem procurava?! Era a dúvida que acercava o pensamento de todos...

To be continued...

domingo, 27 de janeiro de 2008

Fugas


*Foto por Expresso do Oriente


Levantara-se às 4h da manhã para apanhar o comboio que a levaria ao aeroporto. Ia regressar a casa naquela madrugada mas não lhe apetecia. O facto de estarmos ausentes de um local (e desse país em geral) traz sempre uma agradável sensação de fuga e consequente alívio. Apesar de todos os problemas estarem sempre presentes na sua mente, a ecoarem frases que a pouco e pouco lhe iam ferindo sentidos, ali, sentia, no branco da neve, a paz que buscava e o vazio; não um vazio que nos traz um sentimento de impotência e de falta de algo, mas um vazio que nos preenche de nada e isso é tudo o que nestas situações buscamos: o nada. Ficarmos cheios de nada quando andamos tão vazios de tudo. Julgara que se ia sentir cansada e sonolenta mas ao chegar à estação sentia-se cheia de energia; contudo, com o peso do mundo às costas. Ao olhar os comboios que chegavam e logo partiam, sentiu cada vez mais vontade de ficar e prolongar aquela sensação de fuga. Era agradável ser uma desconhecida, fazer o que queria. Era agradável a ilusão de que todos os problemas e interrogações tinham ficado em Portugal. Era agradável fingir que não tinha mais inseguranças. Era agradável começar tudo do princípio, renascer. Era isso que ela queria: renascer! Renascer com todos os ensinamentos do passado. Mas começar uma vida nova. Olhou-o e sentiu ternura, a mesma ternura, o mesmo amor que sempre sentira por ele. Não o mesmo... os seus sentimentos eram cada vez mais fortes, intensificavam-se a cada dia que passava, apesar de conseguir controlá-los melhor (ou fingir e iludir-se disso). Já não gritava de cada vez que descobria uma traição ou uma mentira. Já não passava dias e noites a chorar de cada vez que ele a tratava com desprezo. Mas amava-o cada vez mais. Valorizava cada vez mais momentos como aqueles que vivera nos últimos 5 dias, estando com ele a cada minuto, sentindo gestos de ternura cuja frequência naqueles dias era tão rara nos anteriores. Sem se enganar, porém. Sabia bem o que lhe ia na mente. Percebia todos os seus gestos, cada traço do seu comportamento. Nunca se iludira. Gostava, às vezes, de não pensar na verdade – isso, sim. Ele estava tão entranhado nela que não sabia como viver sem ele. A agitação em seu redor acordou-a destes pensamentos. Os passageiros agarravam as suas malas de viagem e aproximavam-se da beira da plataforma. Olhou para trás, para a outra linha. Olhou-o. Aproximou o seu rosto e beijou-o. Docemente. Muito docemente. Olhou-o. Sorriu. O comboio parou à frente deles. Agarrou na mala. Caminhou. Dentro do comboio, ele virou-se para trás à medida que as portas se fechavam. Do lado de lá, na outra linha, ficou a vê-la entrar num outro comboio, que a levaria de regresso à cidade...