Numa das minhas recentes viagens de comboio, em dia de abertura de mais uma festa do Avante, estava eu imersa na leitura de África Minha quando dei por mim a ouvir a conversa que vos vou relatar, entre duas mulheres de diferentes gerações. Uma era uma jovem, vinha da Guarda e dirigia-se à festa vermelha; a outra era uma mulher de cinquenta anos que se ia encontrar com a filha na Estação do Oriente. Encontraram-se a meio do caminho e ao olhar a parafernália de mochilas que a jovem trazia, a mais velha resolveu meter conversa com ela e interrogá-la se também não ia para a Festa do Avante, ao que a jovem anuiu. A mais velha contou, então, que tinha reparado nas sua bagagem e se tinha lembrado da filha que também ia para o mesmo sítio e com quem ela se ia encontrar no Oriente pois – imagine-se! – se havia esquecido do bilhete de entrada em casa! Contou que a filha estava nervosa porque estava sozinha e ainda tinha de apanhar uma série de transportes. A jovem de imediato se voluntariou para dar boleia à rapariga no carro de uma amiga que a iria buscar à estação. Com isto a cunplicidade entre estas duas mulheres foi imediata e daqui partiram para outras reflexões sobre a vida e começaram a fazer confidências pois toda a história de vida traz uma lição.
- Há males que vêm por bem.
- Pois é, vê? Estava destinado ela esquecer-se do bilhete em casa. Isto nós é que somos muito negativos e, quando algo de mau nos acontece, a carga negativa é tão forte que não conseguimos ver mais nada. Mas por trás de algo mau também vem sempre algo bom, outra saída.
Não sei como mas a partir daqui a jovem desabafa que o (ex)namorado tinha rompido com ela e que ainda estava a sofrer muito com isso. Despertei! Pensei: «mais uma...». Quando a mais velha nos deu uma lição de vida:
- Eu estive casada mais de vinte anos e um dia o meu marido resolveu que não queria continuar comigo. Sofri muito e ainda sofro mas não há um só dia em que não sorria porque é assim que se vence. Fiquei tesa. Ele tem muito dinheiro, mas não tem mais nada! E não somos nós que perdemos. Eu tenho pena é deles, deles que nos perderam. Eles é que são tristes por nos terem perdido. (...)
É curioso como eu sempre pensei assim em relação a quem perdi. Sempre soube que eu é que estava a perder. Mas nunca tinha pensado o mesmo em situação contrária...
E a mais velha continuou:
- Vou-lhe contar uma coisa que muitos acham estranha. Eu chamo-me Ana Rita. Antes de me divorciar era conhecida como Ana. Quando me divorciei e conhecia alguém novo e me perguntavam o nome dizia que era a Rita. Foi como arranjar uma nova identidade. Eu precisava de mudar, de começar do princípio. E resultou. Foi como se fosse uma nova mulher.
Boa tarde, o meu nome é Ângela Margarida e hoje sou apenas Margarida.
Sem comentários:
Enviar um comentário