- Mas?? Que se passou? – interrompeu-a Ana sem conseguir controlar a sua ansiedade.
- Mas ele não chegou a aparecer. Sabes, até me ri da minha estupidez. Ficar horas num restaurante à espera de um desconhecido. Não era isso que eu tinha programado e foi exactamente o que acabei por fazer. Horas à espera dele.
- Mas ele não te disse nada? Não explicou porque não apareceu?
- Como? Eu disse-lhe que me chamava Beatriz porque não queria que ele soubesse nada de mim, para que pudesse sair da vida dele da mesma forma que entrei e ele a mesma coisa! Nem sequer números de telefone trocámos! Eu estava, realmente, em vantagem! Sabia onde ele morava. Mas, como é óbvio, não lhe fui bater à porta! Não, nunca mais o vi... em vez dele apareceu outra pessoa.
Manuel acordou de manhã, na marginal, com os primeiros raios de sol e o barulho de algumas pessoas que corriam ao longo da marginal. Havia adormecido no carro. E se ela tinha saído sem ele dar por isso? Não a podia perder de vista! Resolveu esperar dentro do carro. Ainda era muito cedo e o homem com quem a vira deveria estar ainda lá dentro. O Ibiza preto continuava estacionado à porta do prédio onde haviam entrado os dois na noite anterior. Esperou pacientemente durante algumas horas até que o viu sair. Pensou em segui-lo, mas depois pensou que Rafaela ainda poderia estar lá dentro e não a poderia deixar escapar. Então, resolveu permanecer no carro. Poucos minutos depois, o homem moreno passava com uma rosa branca na mão e um saco de pastelaria. Caramba! Ele ia dar-lhe a volta! Rosas brancas... as suas flores preferidas juntamente com as tulipas brancas. Mas se ele levava uma rosa era porque ela lá havia passado a noite e ainda lá estava. Esperou com impaciência. Quase uma hora depois voltou a ver o homem sair de casa. Sozinho. Pensou em tentar entrar no prédio e surpreendê-la mas não tinha conseguido perceber em que apartamento eles estavam e era demasiado arriscado. Não queria fazer nenhum escândalo e o homem com quem ela estava era nitidamente mais forte do que ele. Acabou por continuar a sua espera, contrariado. O homem regressou passada meia hora. Passou uma hora. Duas horas. Três horas. E nada da Rafaela. Os dois estavam dentro de casa e não havia meio de saírem. Manuel encolerizava-se com o que ia imaginando que Rafaela pudesse estar a fazer com aquele homem. Ela era só dele! Nenhum outro homem poderia tocá-la! Entretanto, a meio destes seus pensamentos, viu a porta do prédio abrir-se e Rafaela e C. saírem de mãos dadas. Ela parecia feliz, de sorriso aberto, trocando suaves carícias com aquele homem de ar latino. Entraram no carro e Manuel voltou a segui-los, esboçando ideias de vingança contra aquele sujeito, aquele cretino que havia ousado tocá-la.