sexta-feira, 15 de junho de 2007

De passagem...




Habituado a longas viagens de comboio, eu e o alfa já nos tratamos por tu e sempre com situações, histórias, episódios engraçados ou desgraçados a acontecer. Desta vez foi uma única palavra que me chamou a atenção e me levou a mais uma divagação.

O começo da viagem prometia ser igual a tantos outros e o discurso inicial e monocórdico a dar as boas vindas, que fluía pelas colunas e flutuava pelo interior da carruagem, obedecia ao quadro habitual. No entanto, nesse mesmo discurso, uma palavra sobressaiu como nunca e se realçou para não mais esquecê-la durante a viagem: a palavra passageiros!
Nunca antes me tinha detido nela, no seu significado e aplicação neste contexto.
Uma análise mais profunda levou-me a concordar no seu sentido mais literal e a aperceber-me que de facto eu sou apenas um passageiro neste comboio.
Este comboio vai realizar esta e outras viagens, quer eu esteja nele ou não, quer o meu percurso seja curto ou longo; ele tem o seu rumo marcado e várias irão ser as pessoas que farão parte dele enquanto não chegarem ao seu destino.
Estou aqui apenas de passagem por este comboio e pelas terras por onde passo - pensei!
Daí a uma analogia com a própria vida e com o mundo foi o tempo de chegar a outra estação, Santarém para ser exacto. Pouco depois a viagem prosseguia e com ela a minha divagação.

Se repararmos, também nós estamos apenas de passagem por este mundo, somos passageiros nesta viagem que é a vida e que dura o tempo de chegarmos ao nosso destino, a que alguns chegarão, infelizmente, mais cedo que outros. Para uns será uma viagem conturbada cheia de incidentes, azares; para outros um passeio; para todos uma experiência única!
À medida que os quilómetros me afastam cada vez mais da minha infância (Viseu) e me aproximam do meu futuro (Tavira), começo a reparar nas pessoas que embarcaram comigo nesta viagem e até nelas encontro semelhanças com as posturas que encontro lá fora perante a vida!
Sempre existirão aqueles que preferem o lugar da janela, de modo a poderem viver melhor tudo o que se passa à sua volta, que têm interesse e gosto pelo conhecimento do que os rodeia ou passa por eles; por outro lado também há aqueles que fazem esta "viagem" de olhos fechados e alheios a tudo sem nunca chegarem bem a experienciar ou a aproveita-la, são pessoas a quem os acontecimentos passam literalmente ao lado; depois há aqueles que não sabem bem qual é o seu lugar e andam perdidos por aí; há os que ajudam os outros a encontrar o seu lugar; há os insatisfeitos que não estão bem em lado nenhum, criticam tudo e que passam a vida a mudar de lugar; há quem viaje carregado e lentamente e quem percorra o seu caminho leve e sem nada a demorá-lo; há os privilegiados que fazem a "viagem" com toda a comodidade e luxo na primeira classe; há os fora da lei que querem fazer a "viagem" de graça ou a enganar os outros; há os que espiam e vivem a vida dos outros e há até quem se engane e esteja a ir por um caminho que não quer.

Mas, encaremos nós de uma forma ou de outra a viagem, a verdade é que estamos todos juntos nela e estamos todos apenas de passagem. Compramos bilhete sem destino marcado, somos passageiros e, tal como nesta viagem que faço, também na outra uns saem para que haja lugar para outros que vão entrando. Mas, já que estamos aqui, porque não aproveitar e ver as vistas?
Apesar da analogia poucos pontos mais haverão em comum e serão mais as diferenças, certamente. E, se numa viagem eu anseio pelo seu fim, na outra rezo pelo seu prolongamento. No entanto uma ideia compartilho para as duas que é que ambas as viagens são bem mais agradáveis se estiver alguém ao nosso lado para as partilhar.



Nota: Foto e Texto daqui , com a participação especial do Nuno, cuja colaboração e amabilidade o A VER PASSAR COMBOIOS desde já agradece.
Texto revisto por Expresso do Oriente

12 comentários:

Leonor disse...

E tu, que passageiro és?
Eu gosto de ir a janela e ver tudo a mudar.
Gosto de ser a observadora que vê a mudança.
Um texto cativante. Uma passageira por aqui

Expresso Oriente disse...

Obrigada, Leonor.
Mas relembro que o texto é de outro autor, cujo link se encontra na nota.
Quanto ao meu tipo de passageira coaduno com a tua forma de estar. Sem dúvida que gosto de estar à janela, a observar, a ver a paisagem mudar, a ver o que fica para trás e a reflectir acerca do destino.

Leonor disse...

Nesse caso, uma boa selecçao de texto.
Observadoras e pensativas por natureza seremos.
O rapaz chamado corvo também o era.
Talvez devido à sua influência vez em mim tanto de kafka.
Ficai na graça de quem os abençoar

Expresso Oriente disse...

vejo que também leste :)
obrigada pela visita

zetrolha disse...

Acreditas que uma vez,numa viagem de comboio entre os 290km que separam Barcelona e Zaragoza eu mandei uma trancada numa espanhola de Valladolid?
Eu sei que não tem nada a ver...mas precisava de desabafar.Obrigado.

Expresso Oriente disse...

Pois, Zé... não tem nada a ver, principalmente NÓS não temos nada a ver (com isso)...

Expresso Oriente disse...

ah! e respondendo à tua pergunta ["acreditas..."]: não, não acredito.

InterRegionalíssimo disse...

AHAHAHAHAHAH... realmente, no que se tornou este BLOG... não sei se estou surpreendido... se calhar não... mas posso dizer que sim... se for mais "politicamente correcto" ;)

InterRegionalíssimo disse...

gostei da parte do "Acreditas"... e da resposta... NÃO... AHAHAHHAHA... o máximo... eu também não acredito... mas tem criatividade e imaginação o nosso visitante "Zé" ;)

Expresso Oriente disse...

pois... são os custos da "globalização" :p

Anónimo disse...

mais uma passageira...
achei seu blog como costumo achar coisas legais: por acaso.
gostei mto do texto! :) poético e simples.
meu mais sincero abraço a quem o escreveu.
xx
Tatyana França.

Anónimo disse...

hum. e meu mais sincero abraço a vc tb, por publicar o texto ;)
TF.