quarta-feira, 13 de junho de 2007

A fuga


*Foto por Pedro Gomes


Fugir. Era o que precisava fazer. Sentia-se cada vez mais desesperada, mais só, mais impotente. Toda a vida fora uma lutadora, persistente, agarra-se aos seus sonhos e projectos com toda a garra e só os abandonava quando atingia os seus objectivos ou quando se apercebia que já nada mais podia fazer. Fora sempre mais teimosa do que a vida, enfrentando tudo e todos, principalmente quando toda a gente lhe dizia para desistir, que não valia a pena, que não ia conseguir. Era de paradoxos, se por um lado era a pessoa mais pessimista que alguém pode conhecer, esperando sempre o pior de tudo (a maior parte das vezes por não acreditar nela própria), era também ingénua e cheia de esperança, esperando sempre pelo amanhã que será sempre melhor, não querendo acreditar na maldade dos outros, esperando sempre o melhor de toda a gente, dando sempre novas oportunidades, tentando ser compreensiva. Mas agora, agora já não tinha forças para lutar, já não tinha por que lutar, nem nada a que se agarrasse. O sonho de uma carreira tinha sido destruído e não conseguia arranjar trabalho em lado nenhum. Claro que conseguia cunhas, mas o seu orgulho não lhe permitia aceitá-las. Riu-se. Orgulho. Tão orgulhosa para umas coisas e com tão pouco amor-próprio para outras. Os seus amigos estavam todos longe, perdidos nos quatro cantos do mundo. O homem que amava tinha-a deixado por outra mulher que nunca tinha deixado de esquecer. Já não tinha por que lutar. Sumiram-se-lhe as forças e entregou as armas. Encheu uma mala com roupa, agarrou no último ordenado e no subsídio de férias e dirigiu-se à estação. Apanhou o primeiro comboio que encontrou para fora do país e dirigiu-se para Madrid.

11 comentários:

Expresso Oriente disse...

Muito abrunhosa... eu sei.

Expresso Oriente disse...

relendo o que escrevi... até que não era má ideia seguir o exemplo da personagem...

InterRegionalíssimo disse...

Madrid?!?... é já ali ao lado... porque não... ;)

Expresso Oriente disse...

sim... porque não? se calhar pq o ordenado da personagem deve ser maior que o meu. eheheh

Expresso Oriente disse...

olha q passei o dia a pensar seriamente na hipótese de apanhar este comboio... só preciso que os italianos paguem de 1x e depois, quem sabe, quem sabe... tenho cada vez + vontade de fugir!

Nórdico disse...

sim ... mas Madrid !? ... ao menos Barcelona que tem praias ... heheheheh

como sempre um grande texto.

Nórdico disse...

e já agora ... grande foto ...

Expresso Oriente disse...

Obrigada, Nórdico.
Pois, Madrid porque me lembrei que há 1 comboio semanal nocturno que faz, salvo erro, o trajecto Castelo Branco - Madrid. Mas na verdade, Barcelona também está ser ponderada...

Qt à foto... os créditos são do autor.
Obrigada pela tua visita :)

zetrolha disse...

Também sou dos tais que prefere Barcelona a Madrid.São mais 500km,mas vale a pena.
Quanto ao texto,não opino.Não li!Mas tem ar de ser interessante.

Expresso Oriente disse...

ze trolha, sinceridade acima de tudo! ehehe
já agora... como é que um texto pode parecer interessante sem ser lido? pelo aspecto gráfico, qual texto poético?... hummm... esclarece-me.
quanto à tua opinião, estou curiosa em relação a barcelona, que ainda não conheço; mas madrid encantou-me e não deixa de ser a capital; além disso, é bastante mais apetecível a um/uma português/a já que lá se estabelecem muitas das relações comerciais entre Portugal/Espanha.
Por outro lado, em contactos com a embaixada portuguesa na Austrália, parece-me que aquele canto continua a ser atractivo e a procurar malta para ir para lá... com a mais valia de ficar muiiiiiiiiiiito longe. Para quem procura uma "fuga", é sempre positivo :)

Expresso Oriente disse...

A minha próxima viagem será MESMO feita de comboio para ver se me inspiro! Portanto, quarta ou quinta espera-se novo texto... Antes disso: é a tua vez! :p