*Foto de Daniel Camacho
Sentou-se e, quando o comboio partiu, suspirou de alívio. O seu suspiro foi profundo e deixou fugir um sonoro “ai”, de tal forma que quem ia ao seu lado a olhou demoradamente. Ela ignorou e sorriu, olhando pela janela a cidade que deixava para trás. Finalmente, finalmente deixava tudo para trás. Nos últimos tempos sentia-se sufocada, quase claustrofóbica. Já nada a segurava àquela cidade para além da sua família e isso era muito pouco para si. Ali não se podia desenvolver profissionalmente. Poucas eram as oportunidades de procurar uma nova carreira ou novas oportunidades. Os seus amigos já tinham todos abandonado a cidade e construído vida na capital. Recordou, aliviada, o fim-de-semana que deixava para trás. Céus! Não ia sentir saudades nenhumas daquilo. Festa na aldeia, toda a gente reunida. Sentiu-se estrangeira (como diria Camus) na sua própria terra. Olhava os mais jovens e não conhecia ninguém, enquanto os mais velhos a olhavam como que a fazerem-lhe uma ressonância magnética! Qual raio-X! Eles analisavam-na à lupa! Já para não falar das conversas das doenças todas e mais algumas ou da típica questão “Então? Quando é que te casas?”. Depois havia também os embaraçosos encontros com as colegas de infância, com as quais já nada tinha a ver e com quem não sabia o que falar. Fugiu dali assim que pôde e dirigiu-se à cidade para assistir a um concerto. Foi sozinha pois há muito que se tinha habituado a seguir o provérbio “Mais vale só do que mal acompanhada”. Mas a verdade é que não tinha com quem sair. De qualquer forma, pensou que na cidade as coisas seriam melhor. Mas não foram. A cidade continuava mesquinha, tacanha, conservadora e preconceituosa. Vendo-a sozinha os olhares que se centravam nela variavam entre o jocoso, o alarve e o desaprovador. Por momentos sentiu-se embaraçada, mas depois resolveu ignorar e aproveitar. O concerto foi bom, o artista esforçou-se mas a cidade não apresentou um bom cartão de visitas. Eram todos demasiado ignorantes para apreciarem as criações feitas, as críticas, as construções. Olhou de novo pela janela e, ao ver que a cidade já não se avistava, sorriu. Começava uma vida nova...
3 comentários:
Espero que tenha sido mesmo a "desejada" partida... e que como o nome indica seja o INICIO de uma nova vida e de algo de BOM...
Vai aparecendo ;)
reino da fantasia, partenere... reino da fantasia...
já percebi que sim... já percebi que sim... mas mesmo assim... mesmo assim... ;)ficam os desejos de boas fantasias ;)
Enviar um comentário