domingo, 29 de abril de 2007

Partidas e Chegadas




A primeira vez que andei de comboio tinha 18 aninhos e começava uma nova fase da minha vida, cheia de sonhos e ilusões, com muitos projectos pela frente, cheia de garra. Ia apanhar o intercidades para Coimbra, onde entrara na universidade. Era o realizar de um primeiro sonho. Nunca havia andado de comboio, portanto era mais uma coisa nova em milhares de novas sensações. Não sabia que havia carruagens de 1.ª classe e carruagens de 2.ª; era quase como se houvesse pessoas de 1.ª classe e pessoas de 2.ª. Não me custaram as despedidas. Era a primeira vez que ia sair de casa, viver noutro sítio, com pessoas que não conhecia de lado nenhum, numa cidade também ela desconhecida. Mas não me custaram as despedidas. Pelo contrário, no rosto levava esboçado um enorme sorriso, grande ansiedade em iniciar um novo caminho. Pelo caminho, perdi-me em pensamentos e reflexões, encontrei-me dentro dos meus sonhos e estudei os passageiros ao meu lado, concentrados nas suas leituras, esquecidos nas músicas que ouviam por um discman (ainda não se usavam iPods nem leitores de mp3), adormecidos ou simplesmente com o olhar vagueante pelo exterior. Cheguei ao destino com um ar triunfal: veni, vidi, vici!
Da última vez que fui a uma estação de comboios não parti dentro de nenhum deles; mas senti-me partir com ele. A ansiedade e a alegria da partida foram substituídas por um amargo e tristeza, por um medo da perda, um não querer deixar ir. Não me perdi em sonhos, projectos e ilusões; perdi-os antes a eles. Fiquei... mas tive de o deixar ir.
*Foto de Pedro Moreira

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