sábado, 28 de abril de 2007

Sem hora marcada


Foi numa noite perdida no tempo que a encontrei. Esperava por aquele comboio havia muito, já nem ela mesma sabia. Há muitas semanas que o tempo havia parado e, desde então, ali se encontrava, de olhar cheio, fixo no horizonte onde havia de surgir o comboio por que esperava fazia muito. A estação parecia abandonada tal era o silêncio e a ausência de vida. Não se viam passageiros nem funcionários da CP. Apenas ela, sentada naquele banco, discreta, concentrada nos seus pensamentos. Ao seu lado tinha pousada uma mochila. No seu regaço, um livro aberto, esquecido, já que o seu olhar não se desviava do fundo do caminho-de-ferro. O tempo parecia não passar, o comboio parecia não chegar e ela ali estava, há quase um mês, à espera, de olhar cheio e mente perdida. Finalmente, o relógio sem ponteiros fez anunciar que a hora se aproximava e uma voz quebrou o silêncio: “Vai dar entrada, na linha número 1, o comboio procedente de um passado de incertezas e com destino ao fim da ansiedade. Efectua paragens em sonhos, insónias, projectos, dúvidas e encontros.”
*Foto de Filipe Santos (p&b nosso)

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