quinta-feira, 21 de junho de 2007

"Apanhar o Comboio": o começo do fim

*Foto por Hugo Félix


C. mostrou-lhe onde ficava a casa de banho, entregou-lhe uma toalha limpa e disse que ia aproveitar para ir comprar o jornal e deixá-la mais à vontade. Quando voltou encontrou “Beatriz” na sala, enrolada apenas na toalha, de cabelos molhados a escorrerem pequenas gotas que desciam sobre os ombros e costas como uma lágrima que beija a pele e cujo percurso ele ia hipnoticamente seguindo. Não conseguiu disfarçar a atracção que sentia por aquela mulher desconhecida e o seu olhar não se desviava das linhas do seu corpo, admirando igualmente as pernas bem torneadas. A princípio, “Beatriz”, que procurava na mala uma roupa mais confortável, não deu pela sua presença nem o ouviu chegar, uma vez que tinha encontrado uma colectânea de música jazz e a tinha posto a tocar. Mas, de súbito, sentiu-se observada e, sem pensar, sorriu maliciosamente, pensando no que ia fazer. Toda a vida havia sido uma menina bem comportada, primeiro uma estudante aplicada, depois uma profissional empenhada, mais tarde a companheira fiel e dedicada, preocupada mais com o juízo que os outros faziam de si do que em viver a sua vida. Chegara a altura de viver essa vida há tanto parada, vivê-la realmente, experienciando cada momento como quem sorve a última gota de um néctar divino. Seguir os seus instintos. Aventurar-se. Foi assim que, fingindo não se aperceber da presença de C., “Beatriz” deixou a sua toalha cair, revelando a sua nudez. Virou-se lentamente e olhou-o nos olhos. C. não o percebeu pois fixou-se nos seios perfeitos da mulher que tinha à frente. Ela aproximou-se e beijou-o. Foi um beijo electrizante, algo que nenhum dos dois havia alguma vez sentido. “Beatriz” sentiu como se todo o seu corpo fosse invadido por uma sucessão de vagas de calor e energia. Demorou vários minutos, aquele beijo, e “Beatriz” sentiu uma onda de prazer apoderar-se de si como poucas vezes havia sentido num acto sexual. Apenas com um beijo. De corpos unidos, C. conduziu-a até ao quarto, enquanto ela lhe ia tirando a roupa pelo caminho. Possuíram-se de forma selvática e, no final, aninharam-se um no outro em descanso, abraçados, quase fundidos num só, sem trocarem palavra.
- Preciso de um duche. – disse “Beatriz” levantando-se da cama. – Vens? – perguntou-lhe em tom desafiador quando chegou à porta. C. não respondeu. Apenas sorriu e seguiu-a. No duche voltaram a amar-se.

- Tu... tu... Olha, por essa eu não esperava! Aquela da toalha caída no chão... Nem te reconheço! E... como é que ele foi?! Quer dizer... tu sabes! Como é que ele é?
Beatriz sorriu.
- Nem consigo definir. É... foi viciante. O C. é viciante. Um simples beijo com ele é uma explosão de prazer. O teu corpo tem espasmos de prazer! Apenas o facto de ele entrar em ti faz-te entrar em êxtase. Foi viciante... e inesquecível.
- Isso significa que não ficaram por aí? Continuaste a encontrar-te com ele? Carago! Isto de estarmos tanto tempo longe não dá com nada! Conta-me! Estou cada vez mais curiosa com o que aí vem. É que depois do que me contas eu já nem sei o que pensar ou o que esperar! Voltaram a encontrar-se? Não ficaste em casa dele outra vez, ficaste?

5 comentários:

Expresso Oriente disse...

Nota da autora:

1)Um estilo de texto um pouco diferente do que estou habituada. Confesso que não tenho muito jeito para descrever certas situações. É que ao contrário de alguns, eu gosto pouco de ladrar. ;)

2)Para aqueles que estejam a pensar "O que raio tens isto a ver com comboios ou estações?!" relembro que "Beatriz" conta esta história a "Ana" enquanto viajam no Lusitânia Comboio Hotel, a caminho de Madrid.

3)Os comentários estão temporariamente abertos. Se houver algum comentário jocoso eu fecho-os.

4)Não, Zé, eles depois não fumaram nenhum cigarro. Se fumassem era antes e não depois e seria um produto 100% biológico. ;p

Leonor disse...

Já estou como a Ana. O que se passou depois? Que curiosidade

Leonor disse...

Venho dizer-te que publiquei o meu último poema de jeito (penso). A partir de agora vou demorar muito mais tempo a publicar. ´Não tenho escrito há muito tempo. Fica bem

InterRegionalíssimo disse...

Gostei da forma como "colas" os leitores à história... deixando o "to be continued" sempre no ar ;)

Relativamente à tua pergunta... digo que só me aparece a mim porque só consigo ver o POST quando entro no blog, como visitante, nada feito... normalmente faço um comment a mim próprio e já desperta o BLOG adormecido ;)

Expresso Oriente disse...

partnére: estranho... se achas que consigo prender os leitores, óptimo ;)

leonor: logo já há mais.