Quando Manuel chegou a casa, dirigiu-se à sala, sentou-se numa das poltronas e pôs-se a ver televisão, como fazia todos os dias. Passados exactamente noventa segundos depois de se sentar, começou a gritar, como fazia todos os dias:
- Querida! Querida!
Nada... ao contrário do que acontecia todos os dias. Apenas o silêncio. O silêncio que tanto medo lhe causava.
- Queriiiiiida! Queriiiiiida!
Ainda nada.
- Rafaela! Oh, Rafaela! Rafaela! Querida!
Insistiu um bom bocado, como sempre fazia.
Passados cinco minutos sem resposta, levantou-se contrariado e foi buscar um pão à cozinha. Depois, percorreu todas as divisões da casa em busca da sua companheira. Nada da Rafaela. Talvez tivesse ido à loja buscar alguma coisa para o jantar. Tinha fome. Eram quase horas de comer. Voltou à cozinha para espreitar o que Rafaela tinha preparado e estranhou não ver nada no fogão, nenhuma comida feita ou semi-feita. Não era da Rafaela não ter ainda o jantar a preparar. Ela sabia que ele gostava de jantar cedo e fazia sempre tudo para lhe agradar. Na verdade, saiu-lhe a sorte grande quando conheceu a Rafaela. De todas era aquela com que mais ganhava. Ocupou-se dos seus filhos e quase quis ficar também com a guarda da neta. Aliás, só não o fez porque ele não havia revelado grande entusiasmo nisso e ela ficou apreensiva em relação a criar uma criança sozinha. Detestava as lides domésticas mas fazia-lhe tudo em casa e... era uma mina de ouro! Quando se conheceram, ele passava por sérias dificuldades, com os negócios a correrem mal, e foi ela que, primeiro, o sustentou e, depois, tomou as rédeas de tudo e recuperou a empresa. Se não fosse ela, hoje não teria nada. E se ela se fosse embora estava ciente de que perderia muitos clientes. Para juntar a tudo isto, era um excelente troféu para um quarentão exibir, passeando-se com uma miúda que tinha metade da sua idade. O telemóvel tocou, interrompendo-lhe o pensamento. Era a Elisabete. Outra gaja boa como o milho. Quarentona também, mas muito bem conservada. Loura. Ex-modelo. Fácil de levar para a cama como quase todas. Conhecia bem o tipo. Era casada com um empresário que lhe dava tudo menos atenção. Coitada. Precisava de um bom tratamento. E ele sabia e podia dar-lho.
- Elisabete, querida, adivinhaste os meus pensamentos. Cheguei agora a casa e ia ligar-te. Estou exausto. Tive um dia cinzento. A única coisa que me segurou foste tu, a tua lembrança. Pensar em ti dá-me tanta paz...
- O meu marido está a chegar. Tenho de desligar. Liga-me amanhã. Preciso de te ver novamente. – desligou.
Manuel levantou-se e foi até à varanda. Não havia meio de Rafaela chegar. Era estranho. Acendeu um cigarro. Sentiu um arrepio de frio. A noite estava a arrefecer e assustou-se com a ideia de ficar doente. Era um hipocondríaco. Acabou de fumar o seu cigarro dentro de casa e dirigiu-se ao quarto para ir buscar uma camisola de malha. Dirigiu-se ao roupeiro e, ao abri-lo, ficou estagnado. Toda a roupa de Rafaela tinha desaparecido. Correu até à salinha do fundo. A mala de viagem dela também já lá não estava. Rafaela tinha-o deixado! Sentiu-se mal. Começou a ficar com tonturas e sentiu o coração acelerado. Ninguém o deixava! Agarrou no telemóvel e pensou em ligar à irmã. Elas eram muito amigas. Demasiado até. Talvez Rafaela lhe tivesse dito alguma coisa. Quando ia para marcar os números, o telemóvel tocou. No visor apareceu o nome Sofia. “Oh, sorte!”, pensou. “O que quer esta agora?”
- Estou! – atendeu bruscamente.
- Senhor Rebelo Sousa, desculpe estar a ligar-lhe.
- Diga! – respondeu quase num grito.
- É que o Eng.º Tavares ligou a querer confirmar o almoço com a Rafaela, mas ela não atende o telemóvel. Eu vi-a junto à estação antes de ele ligar e era para confirmar se a viagem dela ao Porto foi antecipada.
- Junto à estação? Hã? Hum... Pois. Foi. Foi antecipada. – respondeu atrapalhado mas não querendo dar a perceber o que se passava. – Esse Eng.º é um cretino! Cancele! – e, sem mais, desligou-lhe o telefone.
Amaldiçoou-se e agarrou nas chaves do carro. Talvez não fosse demasiado tarde. Quando chegou à estação e se preparava para sair do carro à procura de Rafaela, viu-a sair do café, rindo-se. Ao lado dela vinha um homem moreno na casa dos trinta. Os dois entraram num Ibiza preto e arrancaram. Manuel apressou-se a ligar o carro e arrancou atrás deles.
- Querida! Querida!
Nada... ao contrário do que acontecia todos os dias. Apenas o silêncio. O silêncio que tanto medo lhe causava.
- Queriiiiiida! Queriiiiiida!
Ainda nada.
- Rafaela! Oh, Rafaela! Rafaela! Querida!
Insistiu um bom bocado, como sempre fazia.
Passados cinco minutos sem resposta, levantou-se contrariado e foi buscar um pão à cozinha. Depois, percorreu todas as divisões da casa em busca da sua companheira. Nada da Rafaela. Talvez tivesse ido à loja buscar alguma coisa para o jantar. Tinha fome. Eram quase horas de comer. Voltou à cozinha para espreitar o que Rafaela tinha preparado e estranhou não ver nada no fogão, nenhuma comida feita ou semi-feita. Não era da Rafaela não ter ainda o jantar a preparar. Ela sabia que ele gostava de jantar cedo e fazia sempre tudo para lhe agradar. Na verdade, saiu-lhe a sorte grande quando conheceu a Rafaela. De todas era aquela com que mais ganhava. Ocupou-se dos seus filhos e quase quis ficar também com a guarda da neta. Aliás, só não o fez porque ele não havia revelado grande entusiasmo nisso e ela ficou apreensiva em relação a criar uma criança sozinha. Detestava as lides domésticas mas fazia-lhe tudo em casa e... era uma mina de ouro! Quando se conheceram, ele passava por sérias dificuldades, com os negócios a correrem mal, e foi ela que, primeiro, o sustentou e, depois, tomou as rédeas de tudo e recuperou a empresa. Se não fosse ela, hoje não teria nada. E se ela se fosse embora estava ciente de que perderia muitos clientes. Para juntar a tudo isto, era um excelente troféu para um quarentão exibir, passeando-se com uma miúda que tinha metade da sua idade. O telemóvel tocou, interrompendo-lhe o pensamento. Era a Elisabete. Outra gaja boa como o milho. Quarentona também, mas muito bem conservada. Loura. Ex-modelo. Fácil de levar para a cama como quase todas. Conhecia bem o tipo. Era casada com um empresário que lhe dava tudo menos atenção. Coitada. Precisava de um bom tratamento. E ele sabia e podia dar-lho.
- Elisabete, querida, adivinhaste os meus pensamentos. Cheguei agora a casa e ia ligar-te. Estou exausto. Tive um dia cinzento. A única coisa que me segurou foste tu, a tua lembrança. Pensar em ti dá-me tanta paz...
- O meu marido está a chegar. Tenho de desligar. Liga-me amanhã. Preciso de te ver novamente. – desligou.
Manuel levantou-se e foi até à varanda. Não havia meio de Rafaela chegar. Era estranho. Acendeu um cigarro. Sentiu um arrepio de frio. A noite estava a arrefecer e assustou-se com a ideia de ficar doente. Era um hipocondríaco. Acabou de fumar o seu cigarro dentro de casa e dirigiu-se ao quarto para ir buscar uma camisola de malha. Dirigiu-se ao roupeiro e, ao abri-lo, ficou estagnado. Toda a roupa de Rafaela tinha desaparecido. Correu até à salinha do fundo. A mala de viagem dela também já lá não estava. Rafaela tinha-o deixado! Sentiu-se mal. Começou a ficar com tonturas e sentiu o coração acelerado. Ninguém o deixava! Agarrou no telemóvel e pensou em ligar à irmã. Elas eram muito amigas. Demasiado até. Talvez Rafaela lhe tivesse dito alguma coisa. Quando ia para marcar os números, o telemóvel tocou. No visor apareceu o nome Sofia. “Oh, sorte!”, pensou. “O que quer esta agora?”
- Estou! – atendeu bruscamente.
- Senhor Rebelo Sousa, desculpe estar a ligar-lhe.
- Diga! – respondeu quase num grito.
- É que o Eng.º Tavares ligou a querer confirmar o almoço com a Rafaela, mas ela não atende o telemóvel. Eu vi-a junto à estação antes de ele ligar e era para confirmar se a viagem dela ao Porto foi antecipada.
- Junto à estação? Hã? Hum... Pois. Foi. Foi antecipada. – respondeu atrapalhado mas não querendo dar a perceber o que se passava. – Esse Eng.º é um cretino! Cancele! – e, sem mais, desligou-lhe o telefone.
Amaldiçoou-se e agarrou nas chaves do carro. Talvez não fosse demasiado tarde. Quando chegou à estação e se preparava para sair do carro à procura de Rafaela, viu-a sair do café, rindo-se. Ao lado dela vinha um homem moreno na casa dos trinta. Os dois entraram num Ibiza preto e arrancaram. Manuel apressou-se a ligar o carro e arrancou atrás deles.
9 comentários:
Sim, sim... já sei, a foto n é a p&b (perdi toda a autoridade...). ;)
E tb sei q sairam tds de carro e ng de comboio... mas remeto para o comentário que fiz num dos últimos textos.
Andas a atrasar continuadamente o comboio e fica aqui uma pessoa na expectaviva. Queria mais. já estou como tu, viciada na tua história.
é o que eu digo... apostaste em agarrar o pessoal à história que se prolonga mais que uma novela das TVI...(cuidado com isso)... ainda te chamam para guionista e nós não queremos isso... ;)
Concordo com o/a interregionalíssimo, isto de ficar mais longo que uma novela da TVI também não. Gosto de histórias não de telenovelas
EHEHEHEH, é isso... é isso... mas ela parece que quer fazer disto uma nova versão do "Anjo Selvagem" ;)
partnére: pouco tempo depois de abrirmos a estação eu não te disse que ia criar o enredo da nova novela da TVI? hã? disse ou não? eu cá não faço promessas que não cumpro! eheheh
leonor: não estou a atrasar o comboio. ele continua em andamento. mas a viagem dura uma noite inteira. 12 horitas.
aos 2:~isto é um blogue! n dá para escrever muito de uma vez porque senão fica mt extenso e lá se vai a leitura.
aviso: a história é capaz de se atrasar porque quero aproveitar os pouquíssimos dias q tenho de férias, tenho ainda de acertar os detalhes do novo job e assinar o papelito (sim, porque os italianos ensinaram-me a lição) e entrar na odisseia de arranjar um quarto em LX...
BOM FDS! :)
Já agora por causa das comparações com as novelas da TVI:
- "Beatriz" e Rafaela nõ são irmãs gémeas
- "Beatriz" e C. tb n são irmãos, q depois já n são e depois tornam a ser e no final definitivamente não são...
Que Manuel Arouca de saias me saíste!
Olha lá,eles no fim,ficam juntos?
Quem? "Beatriz" e C. ou Rafaela e Manuel?
Tens de ler até ao fim para o saber...
;)
Enviar um comentário