sexta-feira, 20 de julho de 2007

The Brake to Reality



Sentado à janela da carruagem em que seguia rumo a um destino desconhecido entretinha-se a contar os postes que passavam lá fora à velocidade dos sonhos... sem nada para fazer... se ao menos o ipod funcionasse poderia ouvir musica... não percebia muito bem porquê mas não conseguia ouvir nada... devia estar avariado... não deu importância... alias, esse facto por si só já era extremamente curioso... ele, sempre tão preocupado com tudo... com as suas coisas, com os seus haveres estava estranhamente despreocupado... era como se tudo tivesse perdido a importância... pelo menos tudo o que era material...

Em tempos fora tomado por alguns como uma pessoa muito materialista... e única e exclusivamente preocupada com o seu sucesso, as suas vitórias pessoais, os seus troféus... o seu lucro... o seu dinheiro... o seu status...

Nunca tivera essa noção, alias, discordava inteiramente dela... era apenas alguém que queria ser feliz... que gostava de ter pequenas coisas... chamem-lhe pequenos luxos... talvez... mas luxos que o suor do trabalho pode pagar... para ele tudo se resumia a uma palavra... CONFORTO...


Com o passar do tempo estranhou o silencio que tomara conta daquela carruagem... não se ouvia um único ruído... que estranho – pensou... até vai quase cheio... mas logo retomou a sua contagem de postes... de repente uma súbita travagem... o comboio balançou bruscamente e sentiu-se um comprimir entre carruagem como se de um acordeão se tratasse... finalmente parou... e o pânico instalou-se e tomou conta de todos os passageiros... ou de quase todos... pois, estranhamente... ele ali continuava no seu lugar... calmo e sereno... quase sem dar pelo tumulto que se havia instalado... olhou em volta e viu pessoas a correr por entre os bancos em direcção à frente do comboio.... pareciam gritar... e falar alto... mas ele não os ouvia... era como se tivesse ficado surdo de repente... via o movimento... sentia a atmosfera pesada... mas não sabia o que se passava... ao seu lado passou uma senhora notoriamente abalada que se dirigia em sentido contrário à maioria dos passageiros... já deveria vir na volta... mas o que será que tinha acontecido para a senhora ter aquele olhar pesaroso e abalado... tentou interpela-la... - a senhora desculpe... o que é que passou? – disse num tom calmo e educado... mas não obteve resposta... parecia que a senhora nem o tinha ouvido... provavelmente ia nos seus pensamentos e não reparou que ele se estava a dirigir a ela...

Levantou-se e foi caminhando lenta e calmamente pela carruagem até à saída mais próxima... desceu do comboio... estava um calor abrasador... uma brisa tórrida e com um cheiro calcinado saía por debaixo do comboio e invadia todo o ar... avistava-se um grupo de pessoas reunidas em torno de algo ao fundo... na frente do comboio...Caminhou ao longo da linha e ao longo do comboio aproximando-se das pessoas... reparou que as rodas das carruagens apresentavam um tom brazeado... a travagem pelos vistos tinha sido violenta... ao chegar juntos das pessoas reparou que estava um vulto... algo no chão... junto à linha...seria uma pessoa?!... ou talvez um animal?!... não conseguia observar com certeza... as pessoas não se moviam e teve que contorná-las para saber o que motivava tamanha curiosidade... reparou nuns sapatos e percebeu que era uma pessoa... que lhe teria acontecido?!? Aproximou-se o mais que pôde... espreitou... uma pessoa moveu-se e conseguiu finalmente ver-lhe o rosto... era... ELE PRÓPRIO...

2 comentários:

Anónimo disse...

atenção q esta cor lê-se mt mal no preto.
e.o.

Expresso Oriente disse...

macabro... mas brilhante! gostei!!!