domingo, 15 de julho de 2007

Escolhas




Era noite cerrada... caminhando junto ao muro que dividia a estrada do lago estava ele... mãos nos bolsos... balbuciando-se como quem se embala pelos pensamentos ou por um copo a mais bebido num qualquer bar das redondezas... caminhava sem destino... um ouvido atento conseguiria distinguir um som abafado que as espaços lhe rasgava os lábios e se tornava audível... estava a cantar... ou melhor, a trautear uma velha musica da qual não sabia sequer a letra, nem como lhe tinha aparecido na cabeça... mas simplesmente apetecera-lhe trautea-la acompanhando o ritmos da água que se movia ao sabor das correntes e dos vento. Ao fundo da rua... no escuro do breu notou um vulto do qual apenas se destinguiam algumas linhas de força... era um velho pescador, que ocupava o seu lugar cativo de há muitos anos... nunca ninguém o vira retirar da água coisa alguma que se parecesse com peixe... mas ele lá estava, religiosamente, no seu spot favorito, lançando a linha à água e esperando... esperando... esperando... imóvel, impávido e sereno ali permanecia horas a fio... sem sequer dizer uma palavra. Ao passar por ele o homem trauteou um pouco mais alto... e ouviu de imediato um “XIIUUUU!!”... o que foi Mestre? – respondeu o homem. Não me diga que lhe estou a espantar o peixe?! – disse num tom de alguma troça. Mas apesar de ter permanecido ali por alguns segundos não obteve resposta alguma... Decidiu continuar o seu caminho, mas ao dar o primeiro passo afastando-se do local, ouviu finalmente a resposta do velho pescador... Não! Não me está a espantar o peixe! – disse ele com uma voz algo rude... mas está a retirar-me aquilo que realmente me faz vir aqui – continuou... toda a gente sabe que aqui não há peixe nenhum... ou se há, é demasiado esperto porque nunca ninguém o pescou... aquilo que aqui procuro é apenas e só a minha PAZ... sou ateu e a pescaria é como se fosse a minha religião... este local é a minha igreja... e já notou o belo templo que eu tenho!? Aqui consigo a paz de espirito que tanto busco, falo comigo mesmo, reflicto, tomo decisões... falo com o meu Deus... como o farnel que trago como se tomasse a hóstia e bebesse o vinho... seja ele o que for... não preciso de símbolos, as coisas são aquilo que quisermos que sejam... está tudo na nossa cabeça... cada pedra deste lago é como um santo para mim... cada isco que coloco no anzol é como uma oração... e aqui não preciso vir bem vestido e calçado para não ser alvo de falatório ou chacota... neste meu templo pode vir quem quiser, 24h por dia 7 dias por semana, 365 dias por ano... não há horários de missa nem de reza... é tudo como quisermos que seja...Ao ouvir todo esse discurso o homem reagiu de novo em tom de gozo e retorquiu – mas que Deus é esse o seu que não recompensa com um peixinho apesar de tanta dedicação... Realmente o senhor não percebeu nada daquilo que lhe disse... é igual a todos os outros... faz porque procura ser recompensado... e que recompensas dá Deus a quem vai à Missa todos os Domingos?! A vida eterna?! O meu Deus pratica um milagre todos os dias que aqui venho... tira-me o peso das preocupações, alivia-me a alma, ajuda-me nas dúvidas e conduz-me às respostas... é tudo o que preciso... “para que quero eu um bilhete de comboio se nem sequer sei onde fica a estação nem para que lugar quero ir?!?!...”

8 comentários:

InterRegionalíssimo disse...

Agora não fui máuzinho... apenas... subliminar ;)

Tuc-Tuc disse...

"Para que serve..." Nao tás a querer imitar o Pedro Abrunhosa, pois não??!! Just jk!
Adorei...muito profundo;)

Soul, Heart, Mind disse...

bem, vou fumar uma cigarrada... e esfumaçar os meus stresses. [se ao menos arranjasse a home sweet home...]

Anónimo disse...

a parte final não faz mt sentido... nota-se q puseste os comboios na história à pressão. Mas qt ao teu discurso sobre a religião... 5*. Coaduno com esse modo de pensar.

EO.

InterRegionalíssimo disse...

mas tantas inferencias porque? quem disse que é a minha forma de pensar... eu nunca disse que o meus "personagens" eram autobiograficos pois nao?

;I

Anónimo disse...

eu disse coaduno com "ESSE" modo de pensar. não disse q era o teu. Bah! :p


E.O.

InterRegionalíssimo disse...

Então e trabalhares qualquer coisita... não?!?

Anónimo disse...

Achei o texto muito bom,por completo!
E a parte final faz sentido sim, é tudo uma questão de interpretação...
;*