quarta-feira, 21 de abril de 2010

Henrik no Comboio

*Foto por Mike Larson




Sento-me no banco de comboio. Gosto de bancos de comboio, tão paisagísticos. Uma rapariga senta-se a meu lado, não resisto a olhá-la, toda ela é economia pura, sem excessos, sem nada de extravagante, e por isso capta a minha atenção. Desgosto de mulheres excessivas, minto, não desgosto, apenas não consigo amar mulheres excessivas. As mulheres excessivamente belas estimulam o excessivo em mim: o sexual. Dificilmente consigo amar uma mulher extremamente bela, demasiado visual, chamem-me o que quiserem mas uma mulher excessivamente bela só me apela ao sexo, tudo nessas mulheres me desvia da paixão duradoura só apela à líbido. Pelo contrário, pensava eu no comboio, uma mulher destas, suave, sem excessos físicos, uma mulher destas, que raramente aparece nas prioridades de lobos nocturnos e diurnos, é para mim um festim de beleza. Uma mulher destas poderia ser um belo amor. Um mulher que mexe as mãos economicamente, coluna hirta como se não pudesse desfazer a pose, talvez não possa, que em cada gesto revela todo um processo mental de realçar as qualidades, isso impressiona-me, essa autoconsciência, fixo-lhe os gestos manuais, faciais, o cruzar e descruzar de pernas, tudo em breve economia. E sorrio, por não passar disso mesmo, dum mero pensamento, uma observação sobre algo trivial, e no entanto tão central em mim: poderia apaixonar-me por uma mulher assim, de facto, e sorrio por saber que no fundo, no fundo, por breves minutos, tê-lo-ei feito, e depois saio do comboio e apenas fica essa imagem, sem mais nada para contar.




por Henrik




2 comentários:

Henrik disse...

Ai escrevo? lol

Soul, Heart, Mind disse...

comentas tudo menos aquilo que eu quero...

...e, sim, escreves. havia dúvidas?