domingo, 18 de abril de 2010

SudExpress e Cabelos de Framboesa (1)

*Foto de Russel



O SudExpress está lotado até quarta.
Logo agora que eu queria dar um pulinho até Paris e refugiar-me dentro do Louvre, o SudExpress está lotado.
Logo agora que eu queria olhar a Mona Lisa e dizer-lhe”Porra! O que é que tu tens de tão especial que deixas os homens presos no teu olhar?! Eu não vejo o que tens de especial! És feia, porra!”
Logo agora que eu queria passear no Sena à noite.
Logo agora que eu queria comprar livros numa feira de rua e subir até ao Sacré Coeur e sentar-me nas escadas a apreciar a vista.
Logo agora, o SudExpress está esgotado.
O meu champô é vermelho vivo, cor de sangue, cor de paixão e feito de framboesas vermelhas e seda. Gosto de framboesas vermelhas. E das pretas também. Gosto de quando te amarrava com lenços de seda e não podias fugir de mim. O meu champô vermelho vivo cheira bem nos meus cabelos castanho – cobre – doirados.
E logo agora não há mais bilhetes de comboio e não posso ir para Paris.
Hoje sorri . Senti-me aliviada ao pensar nas tuas incongruências. Sorri ao perceber que hasteias a bandeira da independência e de que estás sempre tão dependente de alguém, sempre necessitado de um empurrão para fazer coisas, para ver lugares. E eu, eu já vi mais mundo que tu, eu sigo livre e solta, só, sempre só, mas sempre em movimento. Vou onde o vento me sopra – menos agora que o SudExpress está lotado. Eu vejo o Miguel Guilherme e a Isabel Abreu, vejo a Maria do Céu Guerra, vejo a Rita Blanco, o Miguel Luís Cintra, ópera, teatro, música, pintura, fotografia, escultura, artes plásticas, vejo a Joana Vasconcelos e o Robert Longo, vejo Paris, Londres, Madrid, Berlim, Roma, Nápoles, Matera, Pompeia. Não dependo de ninguém e vou a todo o lado – menos agora que o SudExpress está lotado. E tu queres ser o fumo do charro que enrolas para poderes libertar-te mas não sais desse teu sítio sem que alguém pegue em ti, qual charro passado, e te transporte para as mãos de um outro lugar. Tu afundas-te nessa garrafa que esvazias, sem conseguires vir à tona e derivar para outro cais. E eu sou livre. Mas o SudExpress está lotado…

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