domingo, 6 de maio de 2007

Caminhos Cruzados (1)

*Foto de Paulo Gato





O comboio chegara a horas. Ela devia de ter uns vinte e oito anos. Não era muito alta nem muito bonita, mas tinha uma elegância e uma simplicidade que me chamaram a atenção. Bem, pelo menos até a atender; aí é que me despertou realmente a curiosidade!
Trazia vestidas umas calças de ganga, uma camisa de seda branca e os cabelos louros soltos. Parecia nervosa e quando se dirigiu à bilheteira pediu-me um bilhete para o próximo intercidades para o Entroncamento, mas fez uma estranha exigência: tinha de ser na carruagem 7, lugar 7. Talvez fosse superstição, mas algo no olhar dela me dizia que não era isso. Dei-lhe o bilhete e fiquei a vê-la afastar-se para a plataforma, de tal modo distraído que nem ouvia os insistentes e impacientes pedidos do cliente seguinte. O comboio chegou exactamente cinco minutos depois, tal como era previsto e ela subiu. Sentou-se no seu lugar, à janela, e ficou a olhar para a paisagem que ficava para trás, absorta nos seus pensamentos. Haviam-se passado quase 10 anos desde que o conhecera. Desde logo ficaram cativados um pelo outro. Aquilo que os unia era demasiado forte para conseguir ser definido ou descrito. Compreendiam-se como a mais ninguém, conheciam-se sem necessidade de recorrerem a palavras, sabiam sempre o que se passava um com o outro, mesmo estando longe, mesmo no silêncio. Todos estes sentimentos mexiam com ela e assustavam-na. Entretanto, discutiram, ela foi injusta com ele e separaram-se durante muito tempo, embora tivessem sempre arranjado forma de saber um do outro. Quando se voltaram a encontrar foi um choque, ele vivia com outra mulher; mas olharam-se da mesma forma, com a mesma intensidade, olharam-se por dentro, perscrutaram, em silêncio, as suas almas e souberam exactamente o que cada um estava a sentir. Ele já tinha casamento marcado, a namorada estava grávida. Ele gostava da futura mulher mas... continuava a amar a Margarida. Esta, desejou-lhe felicidades, sinceras, e não deixaram nunca de se falar. Sempre às escondidas da mulher de Guilherme que morria de ciúmes de Margarida... talvez com razão, embora nunca nada se tivesse passado entre os dois. Voltaram a encontrar-se algumas vezes, com outros amigos e sempre na presença da mulher, mas não conseguiam evitar cruzar olhares e sentiam que se denunciavam, de modo que resolveram deixar de se ver. Até àquele dia... 2 anos depois da última vez que se viram e 1 ano depois da última vez que se falaram...
(...)

3 comentários:

Nórdico disse...

excelente ideia ... excelentes textos ... excelente.

Tuc-Tuc disse...

História Interessante! Fiquei curiosa...fico aguardar;)

Expresso Oriente disse...

obrigada a ambos.
sócio, queres socializar nesta estação?