quinta-feira, 10 de maio de 2007

Caminhos Cruzados (3)


*Foto de Luís Filipe Cabaco




(...)

Eram exactamente 15h42 quando o comboio regional com destino ao Oriente partiu. Margarida entrou por um lado da carruagem número 7 e Guilherme por outro lado. Quando se encaminhavam para um dos lugares observaram-se de frente. Sorriram, sentiram-se nervosos e embaraçados. Sentaram-se ao lado um do outro. Olharam-se antes de dizerem qualquer palavra, como sempre fizeram. Para quê perguntar “como estás?” se os olhos lhes dão sempre todas as respostas. “Feliz”. “Nervosa”. “Será que devíamos estar aqui?”. “Tenho saudades tuas.” “Amo-te, tu sabes disso.” “Temo-nos, tu sabes também disso.” Deram as mãos e seguiram assim todo o caminho, sem nunca desviarem o olhar, sem proferirem uma palavra.
Apesar de terem escolhido um comboio que parasse em todas as estações, de modo a passarem mais tempo juntos, o tempo voou e, de repente, ouviram a voz feminina que tanto temiam ouvir: “Próxima estação: Oriente”. Inconscientemente apertaram as mãos com mais força e entregaram-se num longo e doce beijo. Há quase dez anos que tinham dado o primeiro e último beijo. O comboio parou, cada um saiu por uma porta, tal como haviam entrado e afastaram-se sem olhar para trás. Nos seus rostos, caía uma lágrima solitária que lhes morreu na boca...

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