domingo, 13 de maio de 2007

A (Matur)IDADE

Foto por: José Branco


Estava ele sentado no banco da Estação do costume, quando ouviu, da outra ponta, o som imponente de uma conversa acalorada entre duas senhoras que do alto dos seus “sessentas” comentavam a importância da IDADE, esse factor tão decisivo para tanta coisa nas nossas sociedades... tantas vezes ele ouviu na vida a palavra IDADE como uma negação de qualquer coisa que pretendia fazer... "não tens idade para ver este filme, não tens idade para sair à noite, ainda não tens idade para poderes conduzir..."

A Idade... mas afinal que importância tem a IDADE... será que vale só por si... pelo número, pela quantidade de idade que se possui, assim como quem conta dinheiro e quanto mais tiver, melhor! Ou será que contar idade é apenas contar moedas e notas como se todas valessem o mesmo?!

Foi este o pensamento que o levou ao interior do comboio, onde se sentou... as senhoras essas entraram à sua frente e ficaram com os melhores lugares (a idade assim o permite) mas desta vez estavam ainda mais próximas e a conversa parecia não ter fim... o comboio arrancou de forma um pouco violenta dando um valente solavanco que terminou com a conversa por momentos... daí até uma delas lançar a sua perspicácia do ocorrido ao tema de conversa foi uma fracção de segundos: - Vês... eu bem te digo, de certeza que o maquinista é novo... vê-se logo... viste como o comboio arrancou à bruta sem ter em conta ninguém – disse uma delas. Atrás delas estava sentado um senhor de cabelo grisalho e de pele enrugada, nitidamente mais velho que a espaços esboçava sorrisos como se estivesse a divertir-se com a conversa das duas.

Entrou o revisor, pediu os bilhetes, e logo uma delas o questionou: - Olhe, desculpe, o maquinista hoje é novo não é?! - Por acaso não – respondeu de pronto - é até um dos mais EXPERIENTES da casa, tem imensos anos de serviço na empresa... A resposta obtida fez parar a conversa de imediato e o revisor seguiu o seu caminho por entre as carruagens.

Aproximou-se uma paragem e o senhor de cabelo grisalho levantou-se para sair, mas antes que o fizesse e ao passar pelas duas senhoras comentou: - As senhoras desculpem, mas não pude deixar de ouvir a vossa conversa... e acho que estão a confundir as coisas... Velhice nem sempre é Experiência e Idade não significa Maturidade. Guiamo-nos por esse factor porque não conhecemos profundamente as pessoas e pensamos que o normal é que quanto mais velho se é, maior foi a experiência de vida que adquiriu, mais maturidade ganhou e se tornou mais responsável e sensata... coisas a que não somos tão agarrados quando somos mais jovens... mas infelizmente isso não é uma verdade irrefutável e há tanta gente neste mundo com IDADE para ter juízo e com tantas EXPERIÊNCIAS de vida, e que mesmo assim continuam a ter atitudes de criança... não as INOCENTES, mas as IMATURAS e é por isso que temos a sociedade que temos... talvez não queiram perder a “Criança que há dentro deles” mas fazem-no sempre ou quase sempre da pior forma e pelos piores motivos...

2 comentários:

Expresso Oriente disse...

CLAP!CLAP!CLAP! Mais um texto com uma importante lição de vida. Talvez o melhor que te li. Excelente. Obrigada

InterRegionalíssimo disse...

Quanta honra... bolas!

Desde que decidi escrever ABRUNHOSICES... é assim... ;)